Todo jornalista sempre ouve as mesmas coisas quando está
começando: “Você tem que buscar a verdade”; “Apure bem os fatos antes de
publicar”; “Cheque tudo, sempre”; etc. Mas frases soltas não ajudam ninguém. É
preciso explicar e dar exemplos que fazem os aspirantes à carreira realmente
entenderem os fundamentos do jornalismo.
No livro “Os elementos do
jornalismo” (2001), Bill Kovach e Tom Rosenstiel nos ensinam, através de
histórias, os dez elementos básicos do jornalismo. Nas 293 páginas (versão em
português) não só jornalistas mas qualquer outra pessoa entende a mensagem.
Os dois autores tiveram a ideia do
livro a partir do grupo que formaram, autodenominado “Comitê dos jornalistas
preocupados” onde eles se encontram para discutir problemas que existem mas que
nem todos observam o suficiente. Por exemplo, no capítulo “Independência das
Facções” eles afirmam: “O jornalismo produzido por gente com perspectivas
diferentes é melhor do que qualquer outro produzido sob um ponto de vista
individual.”(p.161) Essa frase resume a ideia de que o jornalismo não deve ser
direcionado somente para uma camada para a população. Eles propõe a convocação
de pessoas de outras áreas para diversificar as classes sociais compostas
dentro de um jornal.
Uma das histórias contada em maiores
detalhes é a de Cody Shearer, usada para exemplificar o capítulo “Jornalismo
como um fórum público”. No programa de talk
show, Chris Matthews, apresentador, entrevistava Kathleen Willye. Ela dizia
ter sido ameaçada, enquanto fazia jogging, por um homem. Chris queria que ela
dissesse em rede nacional e ao vivo o nome deste homem. Ele queria que ela
dissesse “Cody Shearer” e mesmo não falando exatamente esse nome, Matthews conseguiu
“arrancar” de sua boca frases que praticamente relatavam Cody, ou seja, ela não
disse o nome mas fez com que as pessoas tirassem suas próprias conclusões, no
caso, uma conclusão: foi Cody quem ameaçou Kathleen. Logo depois do fim do
programa, Shearer também foi ameaçado, mas de morte. Conclusão: a opinião
pública virou a notícia e não a notícia gerou opinião pública.
Outro exemplo, relacionado a este, é
o de Larry Klayman no programa de tv “Crossfire”. Ele e os apresentadores Bill
Press e Robert Novak entraram em uma discussão tremenda no programa ao vivo por
causa do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton. Larry afirmava que o
presidente, na época, deveria receber o impeachment.
O por que não é tão importante para o livro. O verdadeiro propósito é
exemplificar como uma conversa para ajudar o público a entender um assunto
torna-se um verdadeiro escândalo em rede nacional. Os três devem ter ficado bem
envergonhados quando reviram o episódio, pois suas opiniões foram expressadas
tão fortemente que suas imagens ficaram danificadas. “Existe uma diferença
entre um fórum público e uma bagunça barulhenta(...)”(p.213)
Através desses contos factuais, os
autores conectam com o leitor prendendo a atenção deste até o final. Mesmo se
repetindo algumas vezes durante os capítulos, a mensagem é passada muito bem.
Os dez elementos são importantes para entender como funciona a ética
jornalística, afinal não tem como não pensar na ética. Quando escrevemos uma
notícia, por exemplo, por mais que tentemos ser neutros não dá. A neutralidade,
como é dito no livro, é na verdade objetividade. A nossa opinião sempre aparece
em nossos textos por mais sútil que seja.
Por causa de uma reunião de
jornalistas, Bill Kovach e Tom Rosenstiel construíram um guia atual sobre a
profissão. No meio de discussões entre os jornalistas presentes no grupo saíram
grandes ideias para formar um livro onde, por mais que sejam baseadas em
problemas no jornalismo americano, servem para qualquer país. Os problemas
estão presentes em qualquer jornal, mas nunca pensaram em como resolvê-los.
Como dizem os autores: “Qualquer um pode ser jornalista, mas nem todos
são.”(p.151)
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