Não existe fórmula para ser um bom jornalista, mas há
sempre dicas de veteranos que podem ajudar os aspirantes à carreira. Nenhum
deles vai dizer que um jornalista tem que ser perfeito, mas chegam quase lá.
Ricardo Noblat, nascido em Recife em 1949, fez a sua
contribuição aos calouros dos jornais. Em 2002 publicou seu livro “A arte de
fazer um jorna diário” pela editora Contexto. As 174 páginas são preenchidas
com o que fazer e o que não fazer em um jornal. Além de comentários sarcásticos
e diretos.
Começando o livro Noblat fala sobre o futuro dos jornais,
que segundo ele, não é ameaçado primeiramente pela existência da internet, mas
sim pela maneira em que eles estão sendo administrados e modelados. Um jornal é
um meio de comunicação muito expressivo. Nas palavras do autor: “(...) é ou
deveria ser um espelho de consciência crítica de uma comunidade em determinado
espaço de tempo. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou
real dessa consciência.” (p.21).
Falando
quase sempre diretamente com o leitor, ele explica o quanto a profissão é
importante, mas não tão importante a ponto de jornalistas acharem que são Deus.
Pegar uma “fofoca” e colocar em um jornal não é noticia. Não tem fatos, não tem
história, é apenas um boato. E se, principalmente, acabar não sendo verdade,
quem a publicou, sofre.
“A boa notícia vende.” Não precisa ser necessariamente
boa ou necessariamente uma tragédia, mas esta é o que acabamos encontrando mais.
As notícias “ruins” são exceções a regra, segundo Noblat. Coisas boas são
normais, as “más” dão notícia, vendem.
Outro ponto citado é sobre a questão de venda de jornais.
O quanto um jornalista inventaria, ou não contaria para vender mais. Às vezes acontece
de uma notícia ser vendável mas mentirosa. Diferente destas, são as notícias
que contém algum erro mas depois são corrigidas. Não é humano errar? Corrigir o
erro é melhor do que humano, no caso de jornalistas, é um dever que eles tem
com os seus leitores. Um repórter que faz grandes reportagens mas nunca apura
bem os fatos não vai ser tão bem visto quanto aquele que tem todos os seus
fatos muito bem apurados em uma reportagem pequena. As pessoas não vão confiar
no autor que não apura corretamente, ou que erram e não se corrigem.
Levando a questão de apuração adiante ele fala sobre
detalhes e como estes podem levar uma simples reportagem a ser uma enorme
reportagem. O que acontecer de grandioso vai aparecer em todos os jornais do
mundo e quase sempre da mesma forma. Mas se a sua reportagem conter algum
detalhe especial, ou algum lado da historia que ninguém contou, ela vai ser
diferente. Ser diferente entre as outras milhões de reportagens é o que conta.
Um caso contado no livro é a reportagem de Elio Gáspari sobre o velório do
grupo “Mamonas Assassinas” em 1996. O modo em que Gáspari descreveu a cena foi
um exemplo de como os detalhes contam uma história melhor. Ele deu informações
que não foram dadas por nenhum outro repórter e isso fez da sua matéria, única.
Através de seu humor crítico, o autor, nos passa uma
lição muito importante e curiosa sobre ser jornalista. “Sejam burros acima de
tudo”. Como seriam os jornalistas, burros? Não vivem dizendo que eles têm que
saber um pouco de tudo e mais? Pois é exatamente por isso que têm que ser
burros. Jornalista tem que perguntar até não saber mais o que perguntar, até
ter informações o suficiente para escrever a sua matéria. Só não pode ser burro
de verdade a ponto de não ter um excelente português, fundamental para a
profissão.
No meio de dicas, comentários, histórias, exemplos, e
humor o livro de Noblat nos faz pensar com algumas reportagens muito bem
escritas; nos diverte com alguns de seus comentários extremamente diretos; nos
faz perceber detalhes da profissão que são essenciais. Gera uma reflexão sobre
o que é basicamente ser um jornalista. Ser o informante do que acontece no
mundo do seu jeito, usando sua melhor maneira de informar: escrevendo.
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